sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Rudimentary Peni - Archaic


ARCHAIC (2004)

DISCOGRAFIA

O Rudimentary Peni surge em 1980 na cidade inglesa de Hertfordshire, e surge como um espelho de toda criatividade esquizofrênica do guitarrista e vocalista Nick Blinko, o baixista Grant Matthews e o baterista Jon Grenville. A banda em seu início mostrava uma imagem difusa do anarcopunk, vindo depois a mudar sua essência e introduzir defitivamente na música underground um imaginário de medo paranóico e agonia perante as condições humanas. Mas tratando de uma forma estranhamente naturalista, como a condição e realidade inseparável do homem e seu destino. Blinko diz ser fortemente influenciado pela escritor americano de horror Howard Phillips Lovecraft, cuja essência de sua riquíssima obra poderia ser resumida em relações do homem pacato e comum com o sobrenatural inexplicável e monstruoso; e a loucura deste homem servindo como única resposta automática de seu cérebro ao se deparar com aquilo que não se explica através da ciência e lógica. Da mesma forma, Blinko aplica essa linha de pensamento e situações de deparação do ser humano com o bizarro, contrastando com diversas passagens traumáticas de sua vida (Nicko e Grant já foram vítimas do câncer). O deparar do homem com sua morte também é item bastante explorado nas letras.
A sonoridade do Rudimentary Peni é basicamente punk. O baixista Grant esteve envolvido durante sua adolescência com o movimento anarcopunk (i.e. a Crass Records), envolvimento este refletido em seus dois primeiros álbuns com o Rudimentary ("Farce" e o auto-entitulado "Rudimentary Peni"). A tendência foi abandonada após esses lançamentos, e as letras com bagagem política passam a ser voltada para um setor de morbidez mental. Os outros dois integrantes admitem não terem tido ligações com o movimento, e não participaram do processo de composição lírica até o terceiro trabalho. O baterista Jon Grenville, inclusive, ao ser questionado sobre um passado anarcopunk, admite não ser 'nada além de um vegetariano'.
A primeira gravação após a fase anarco, o álbum Death Church de 1983, já vem como uma obra prima. Da primeira até a última nota em cadência negativa, um trabalho com inegável fixação em encenações e imagens da morte (reflexão da luta contra a doença de Grant, já citada anteriormente). O tom que se mantém é de um punk horripilante simulando um esfaqueamento.
"Mais uma vez, a Igreja Católica é queimada, e os uivos torturados de Nick e suas orações encaixam na ocasião. Não morra antes de ouvir isso." (Mark Splatter)
O ano de 1987 foi especial para a banda. Steve Albini (do Big Black) grava com Jon e Grant algum material totalmente avantgarde que misteriosamente desaparece. Então os dois se voltam para Nick Blinko e gravam Cacophony, o próximo álbum e na minha opinião o melhor, trazendo um tema totalmente novo. Nele o Peni mergulha nas profundezas abismais do trabalho de Howard Phillips Lovecraft. Todas as letras desse álbum são citações à Lovecraft de uma maneira ou outra; referências ao seu trabalho de ficção, sua vida e sua desgraça sem fim. Nick Blinko, um fã do bizarro e macabro, decidiu escrever sobre o que ele mais se identificou, e esse foi o resultado.
Musicologistas com laços com o além devem ter visto o inferno ao dissecar esse álbum, que vai de notas menores às altas, e tudo que esteja no meio. O virtuosismo dos 3 membros da banda é evidente aqui, principalmente o baixo absurdamente rápido e convulsivo de Grant. Um álbum selvagemente experimental, com a maioria das músicas de difícil categorização, não entrando nem no punk, nem no gothrock. Excelente.
O próximo álbum só seria gravado em 1995, sob o estranho título "Pope Adrian The 37th Psychristiatric". O álbum foi gravado durante o período em que Blinko esteve doente, e as suas contribuições para o álbum, incidentalmente, foram gravadas durante sua estadia no hospital. O histórico do álbum é dos mais curiosos: O pobre Nick Blinko de repente passa a ter a impressão de que ele seria a pessoa certa para assumir o cargo do Papa, e se tornou o Papa Pope Adrian o 37º, o segundo papa inglês da história. O primeiro, Nicholas Breakspeare, é da mesma cidade de origem de Nick (Abbotts Langley), o que fez com que a idéia se fixasse ainda mais. O álbum é basicamente dedicado a falar sobre as desilusões que ele teve em sua tentativa. Há uma constante retomada em toda a duração do álbum do novo título de Nick, "Papus Adrianus".
As músicas são envolventes e hipnóticas, e a maioria com uma duração muito superior que das músicas de outros álbuns (que dificilmente passam dos 3 minutos). Por outro lado, o número de versos da cada letra não passa de 5, e quando você acha que ele já os repetiu o bastante e a música irá acabar, ela não acaba. Algumas letras têm de duas a quatro palavras em toda sua extensão, repetidas até você se nausear. Talvez o câncer que abateu Nick e os medicamentos pesados são responsáveis por isso... o que faz do álbum o mais fraco da carreira do grupo.
Por outro lado, algumas idéias musicais geniais estão presentes aqui, como a faixa "Pope with no name" (o Papa sem nome), "Iron Lung" (uma música onde Nick passa 2:46 minutos tossindo), "I'm a dream", e uma lúgubre ode à medicação psiquiátrica, "Pills potions and Popes". A voz de Nick soa totalmente diferente - quase catatônica, em todo momento você acha que é um Niko velho, e cada vez mais deprimido. No final da mistura, as linhas de baixo do sempre veloz Grant adicionam e balanceiam o nível de energia baixo deixado pelos vocais. Como diriam, "um bom álbum para sangrar até a morte".
Para nos surpreender ainda mais, o próximo álbum, gravado em 1998, é o total oposto de Pope Adrian. Se Pope Adrian tinha músicas extremamente longas e que pareciam infinitas pelas incansáveis repetições, "Echos of Anguish" traz 12 músicas tocadas num total de 15 minutos. Resgata a simplicidade e crueza punk dos primeiros anos da banda, riffs de 4 notas, músicas que acabam logo que seu cérebro começa a entender seu ritmo.
E na mesma linha de Echos of Anguish (1998) e The Underclass (2000) segue o álbum que posto aqui: Archaic (2004).
*Nick Blinko atualmente se dedica a sua carreira de artista plástico ( veja em http://www.deathrock.com/rudimentarypeni ), e tem um livro lançado sobre sua obra, entitulado The Primal Screamer.

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